quarta-feira, 2 de abril de 2014

Desgraçados dos portugueses

Têm de comer e calar.....o destino deles é continuarem a serem roubados pelos politiqueiros dos partidos na governação e humilhados a viverem mal, porque estes lhes roubam nos vencimentos e pensões para pagarem o que eles, politiqueiros e outros roubaram durante a sua gestão.


O ataque a Cavaco
 
Em Portugal, o Presidente da República era geralmente poupado às críticas partidárias.
Mesmo no tempo do salazarismo, a oposição fazia uma distinção entre o Governo e o Presidente - não pondo os dois no mesmo saco, até por razões tácticas (para poder apelar regularmente ao chefe do Estado para demitir Salazar).
Depois do 25 de Abril, esta tradição manteve-se com poucas excepções.
Sá Carneiro e Mário Soares, numa certa altura, atacaram muito Ramalho Eanes.
Mais tarde, na campanha presidencial de 1991, Basílio Horta atirou-se com violência a Soares (embora hoje sejam amigos).
Mas, de um modo geral, a regra foi não envolver o Presidente nas quezílias partidárias e na luta política.
Cavaco Silva, por exemplo, quando era primeiro-ministro, falava das “forças de bloqueio”, mas quando lhe perguntavam se se referia ao PR ele respondia que não. E se há chefe do Governo que tenha sido atacado por um Presidente, esse foi Cavaco Silva.
Mais tarde, Sampaio foi objecto de críticas da esquerda quando aceitou a substituição de Durão Barroso por Santana Lopes à frente do Executivo - mas, quando depois o demitiu, a direita não protestou em demasia.
Nestas condições, Cavaco Silva é o primeiro Presidente a ser objecto de ataques sistemáticos e particularmente virulentos.
O PCP diz diariamente que o PR está feito com o Governo, o BE chama-lhe nomes, o PS ignora ostensivamente os seus apelos para um compromisso pós-troika.
Já para não falar das redes sociais, em que o nome do Presidente é arrastado na lama.
As campanhas contra Cavaco em certos períodos assumiram mesmo aspectos paranóicos, como nos casos das acções do BPN e das escutas a Belém.
É hoje claro que essas campanhas foram lançadas, conduzidas e estimuladas por José Sócrates, com a cumplicidade de alguns media.
Na campanha eleitoral de 2011, o PS desenterrou com estrondo o caso das acções do BPN, que parecia morto e enterrado, e até arranjou um candidato (cujo nome já não recordo) só para falar do assunto.
E, no caso das escutas a Belém, podendo dizer-se que Cavaco 'se pôs a jeito' (quando um seu assessor, Fernando Lima, foi falar do caso ao Público), é óbvio que houve um aproveitamento abusivo do assunto para 'entalar' o Presidente da República.
Sócrates, na sua megalomania, achava na altura que Cavaco era o seu maior adversário e quis destruí-lo pessoal e politicamente.
Hoje, as críticas a Cavaco banalizaram-se.
Jerónimo de Sousa, dirigentes do Bloco e responsáveis socialistas atiram-lhe constantemente pedras.
Mas eu digo: com uma ou outra atitude menos feliz, Cavaco Silva tem sido o homem certo no tempo certo.
O facto de termos um PR com formação e grande experiência na área económica, numa altura em que Portugal teve de recorrer a ajuda externa, foi uma enorme mais-valia.
Diz-se que ele deveria ter-se 'revoltado' contra os credores e não ter aceite a 'humilhação' de Portugal.
Isso é um disparate.
Humilhação foi ter-se conduzido o país a uma situação financeira tal que se viu forçado a recorrer, de mão estendida, ao apoio internacional.
Essa foi a grande humilhação do país - não foi cumprir os compromissos que assumiu com os credores, facto que só o enobreceu.
Nestes tempos difíceis, Cavaco percebeu bem o que as suas funções de Estado exigiam e, de uma forma geral, tomou atitudes certas.
Lá fora, nas intervenções públicas e nos contactos com responsáveis estrangeiros, deixou sempre claro que Portugal tinha condições para pagar a dívida - e isso tranquilizou as instituições internacionais e os mercados.
No plano interno, embora a esquerda o ataque mais, a direita tem mais razões de queixa: basta lembrar o discurso da 'espiral recessiva', o envio dos orçamentos para o TC, as opiniões sobre os cortes nas pensões, ou a rejeição, num primeiro momento, da solução apresentada por Passos Coelho após a demissão de Paulo Portas.
Foram tudo gestos que complicaram a vida ao Governo.
Mas nesta recta final, com o fim à vista do programa de assitência, Cavaco tem mostrado a sabedoria necessária para facilitar uma saída sem percalços.
A decisão rápida de demitir os dois assessores que assinaram o Manifesto dos 70 foi importante, pois impediu que se especulasse sobre uma eventual cumplicidade entre o PR e os autores do documento.
Para avaliar a importância de Cavaco, basta imaginar o que teria acontecido se em Belém, nestes tempos conturbados, estivessem Mário Soares ou Jorge Sampaio, com a sua enorme ignorância económico-financeira.
A avaliar pelo que têm dito (mais o primeiro do que o segundo, reconheça-se), entrariam várias vezes em choque frontal com o Governo e eventualmente tê-lo-iam demitido (inconstitucionalmente) - arranjando um trinta e um que nos teria posto a fazer companhia à Grécia.
Se o Presidente fosse Soares ou Sampaio, hoje estaríamos mergulhados num conflito político de grandes dimensões, descredibilizados internacionalmente, sem ninguém para nos emprestar dinheiro e tendo de aceitar imposições da troika muito mais gravosas do que as que tivemos.
É fácil atacar as pessoas - e a internet veio facilitar imenso o exercício da má-língua.
Por cada comentário positivo que encontramos na net, vemos 30 negativos.
Cavaco tem sido muito criticado, insultado, vilipendiado.
Mas acreditem: a sua acção contribuiu para defender as poupanças e os rendimentos de muitos daqueles que o atacam.
Sem o saberem, tiveram em Cavaco Silva um protector das suas economias.
Sem ele, teriam perdido 50% ou mais, como sucedeu com muitos gregos.
 
in sol.pt

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